terça-feira, 12 de abril de 2011

Pensamento e obsessão

Por F. Altamir da Cunha

É comum a interpretação de que a responsabilidade pelo processo obsessivo é unilateral. O obsessor é visto como o único responsável, atuando simplesmente pela satisfação de fazer sofrer. O obsidiado é considerado como vítima passiva, submetido a um doloroso determinismo, contra o qual não pode se precaver ou se libertar, que não seja através da caridade dos benfeitores espirituais, dispensada nos centros espíritas. Nada justifica esse equívoco.

O encarnado não está isento de culpa, nem tampouco do dever de prevenção e cura. Qualquer neófito do Espiritismo sabe que a obsessão é um fenômeno bilateral – sugestão do desencarnado e aceitação do encarnado. Quanto à prevenção e cura, realizar-se-ão através da substituição dos pensamentos por outros mais apropriados para afastar os maus espíritos e atrair os bons.

Todo processo obsessivo é resultado da lei de ação e reação, que também rege o fenômeno de sintonia mental. O desencarnado é o emissor (caso específico de obsessão de desencarnado sobre encarnado), e o encarnado o receptor, podendo aceitar ou rejeitar a sugestão.

Esse mecanismo é semelhante ao da estação de rádio que emite através de ondas sonoras a sua programação. Para que concretize seu objetivo é necessário que o receptor se encontre sintonizado na sua freqüência.

O pensamento é um atributo do espírito – verdade indiscutível. Não importa que esteja encarnado ou desencarnado, através do pensamento ele pode influenciar e ser influenciado, sendo essa influência boa ou má de acordo com a afinidade espiritual de cada um. De forma que podemos afirmar que só existem obsessões porque existem encarnados invigilantes, que cultivam as mesmas preferências dos obsessores; em outras palavras, porque existe a sintonia.

Jesus, profundo conhecedor desse fenômeno, advertiu: “vigiai e orai para que não entreis em tentação”. (*)

Estar vigilante é estar atento às elaborações mentais, mantendo o controle para que não seja gerada sintonia com mentes oportunistas.

Não foi vã a advertência do Mestre, pois a invigilância dos habitantes do nosso planeta tem transformado a obsessão em um preocupante flagício social. Isso é notório no noticiário apresentado pelos órgãos de divulgação em massa. São repetições quase intermináveis, de notícias destacando as guerras, as tragédias passionais e a violência contra crianças e idosos. A princípio pode ser visto como natural e inofensivo. Todavia, ao considerarmos que as notícias podem gerar imagens correspondentes nas mentes que as absorvem, não será tão inofensivo. Através de reflexos condicionados, sentimentos nocivos adormecidos poderão emergir, predispondo-as a indesejáveis processos obsessivos.

Se considerarmos o poder de abrangência desses órgãos de divulgação – influenciando milhões de mentes ao mesmo tempo – a nossa preocupação não será apenas com as obsessões individuais, ao considerarmos que essas poderão transmudar-se, adquirindo caráter epidêmico.

Justificamos o que expomos, relembrando uma tragédia que se tornou por muito tempo presença no noticiário brasileiro, tornando-se uma das maiores atrações, assistida e discutida no lar e no ambiente de trabalho – a morte da criança Isabela Nardone.

Poucas notícias, das mais importantes que possamos considerar, foram aguardadas com tanta ansiedade. Muitos telespectadores, influenciados pelas imagens apresentadas, reacenderam a chama de violência do passado, transformaram-se em juízes parciais e cruéis ou carrascos insensíveis, apresentaram sentenças sem análise prévia que proporcionasse um julgamento justo; alguns ventilaram até a aplicação da pena de morte. Poucos, porém, lamentaram o ocorrido, externando também compaixão pelo trágico equívoco cometido pelos autores da tragédia.

Cada pessoa reagiu exteriorizando o sentimento de sua preferência, mas era comum o sentimento de ódio e o extremado desejo de vingança; comportamento que bem caracteriza uma obsessão. Esta conclusão não é destituída de fundamento, quando tomamos como referência o que afirmou Manoel P. de Miranda através da psicografia de Divaldo Pereira Franco: “Todo comportamento que se exacerba ou se deprime, exaltando paixões e comandando desregramentos, fomentando ódios e distonias, guardam, na sua raiz, graves incidências obsessivas que merecem cuidados especiais.” (**)

Resultados idênticos conseguem os espíritos maldosos, nas suas repetidas sugestões, quando encontram nas vítimas a sintonia necessária.

Na prática isso quer dizer que a obsessão não é um fenômeno resultante de ação unilateral; o obsessor somente obtém êxito em seu empreendimento porque encontra na vítima a aceitação de suas sugestões.

Sabemos que muitos poderão não concordar com o que expomos, quando consideram que em alguns casos parece ter havido mudança da água para o vinho – o obsidiado jamais externou um comportamento que justificasse a obsessão. Mas como espíritas não devemos esquecer: Muitos sentimentos e vícios do passado ainda que não postos em prática, continuam ativos como pensamentos e desejos que nos comprazem. São eles as matrizes que favorecem as obsessões.

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